ATA DA DÉCIMA SEGUNDA SESSÃO SOLENE DA SEXTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 26.04.1988.

 

 

Aos vinte e seis dias do mês de abril do ano de mil novecentos e oitenta e oito reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Segunda Sessão Solene da Sexta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, destinada a homenagear a passagem do Quadragésimo Aniversário da Proclamação da Independência do Estado de Israel. Às dezessete horas e vinte e nove minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes da Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Brochado da Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Dr. Samuel Burd, Presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul; Dr. Israel Lapchik, Presidente do Conselho de Entidades Judaicas do Rio Grande do Sul; Dr. Abrahão Faermann Sobrinho, Vice-Presidente da Confederação Israelita do Brasil; Grão-Rabino Efraim Guinsberg, Grão-Rabino Ortodoxo do Rio Grande do Sul; Dr. Daniel Bóklis, Presidente da Organização Sionista do Rio Grande do Sul; Sr. Jairo de Souza, representando o Secretário da Justiça, Dr. Waldir Walter; Cel. Paulo Eloir Bortoluzzi, representando o Comandante-Geral da Brigada Militar; Jorn. Wilson Müller, representando a Direção da RBS; Ver. Isaac Ainhorn, proponente da Sessão e, na ocasião, Secretário ‘ad hoc”. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Rafael Santos, em nome da bancada do PDS, comentou a integração alcançada pelo povo judeu dentro de nossa nacionalidade, destacando o grande número de israelitas que ocupam posições importantes em diversos setores da nossa comunidade. Registrou o esforço quase que diário realizado pelo povo de Israel para manter seu território, o que tem sido um magnífico exemplo de amor e fé para toda a humanidade. O Ver. Jorge Goularte, em nome da bancada do PL, falou do seu amor pelo povo judeu, comentando os problemas hoje observados na luta por territórios entre israelenses e palestinos, analisando a questão. Agradeceu o apoio sempre recebido da comunidade judaica porto-alegrense. O Ver. Aranha Filho, em nome da bancada do PFL, falou sobre a luta que vem mantendo o povo israelense para a manutenção de seu território, desde de sua instauração, há quarenta anos atrás, ressaltando ser a paz o desejo maior de toda a comunidade israelita. Destacou a presença de Osvaldo Aranha na decisão tomada pela ONU, a favor da criação do Estado de Israel. O Ver. Antonio Hohlfeldt, em nome da Bancada do PT, disse de sua satisfação por participar da presente homenagem, comentando a criação do Estado judeu e seus objetivos iniciais e declarando que, apesar dos problemas que hoje enfrenta, o Estado judaico ainda não tem inviabilizado seu projeto de desenvolvimento democrático e contínuo do homem e da região por ele habitada. Teceu comentários sobre as lutas atualmente existentes entre judeus e a comunidade palestina. O Ver. Isaac Ainhorn, em nome das Bancadas do PDT e do PMDB, registrou a importância da presente Sessão, como representação do apoio desta Casa ao povo israelita. Discorreu sobre a história de perseguição e luta da comunidade judaica, em sua busca por um território onde pudesse assegurar o desenvolvimento de seu povo. Destacou como fatores básicos para a concretização do moderno Estado judeu o sionismo, a partilha da Palestina e a ousadia dos judeus em sua posse e defesa territorial. Em continuidade, o Sr. Presidente convidou o Ver. Isaac Ainhorn a proceder à entrega do troféu “Frade de Pedra” ao Dr. Samuel Burd, Presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul. Após, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Dr. Abrahão Faermann Sobrinho, Vice-Presidente da Confederação Israelita do Rio Grande do Sul, que agradeceu a presente homenagem. Em prosseguimento, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade, registrou as presenças, no Plenário, do ex-Prefeito João Antônio Dib e do Diretor-presidente da Cia. Carris Porto-Alegrense, Sr. Nélson Castan, convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos às dezenove horas e onze minutos, convocando os Srs. Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Brochado da Rocha e secretariados pelo Ver. Isaac Ainhorn, Secretário “ad hoc”, determinei se lavrasse a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Srs. Presidente e 1ª Secretária.

 

 

O SR. PRESIDENTE: Declaro abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destinada a homenagear a passagem do Quadragésimo Aniversário da Proclamação da Independência do Estado de Israel.

Inicialmente, saúdo a todos os presentes, convidados e autoridades e convido os Senhores e Senhoras para ouvirmos, de pé, o Hino Nacional Brasileiro e o Hino do Estado de Israel. (Pausa.)

A seguir, passo a palavra ao Ver. Rafael Santos, que falará em nome da Bancada do PDS.

 

O SR. RAFAEL SANTOS: Exmo. Sr. Presidente Brochado da Rocha, Presidente dessa Casa; demais integrantes da Mesa; Senhores Vereadores; Minhas Senhoras e Meus Senhores.

Andou bem esta Casa ao aprovar por unanimidade a proposição do Ver. Isaac Ainhorn de que fosse realizada uma Sessão Solene destinada a homenagear Israel no 40º aniversário.

Não é comum, nesta Casa, se realizar Sessões Solenes comemorativas a aniversário de nações irmãs ou vizinhas. Parece-me, então, que é preciso que haja um sentido especial para que esta Casa se reúna para registrar a passagem de aniversário de um Estado distante de nós, geograficamente, como o Estado de Israel. Todavia há laços, há envolvimentos entre o nosso País e o país de Israel que, pela sua profundidade, determinam este ato. E, aparentemente, um observador menos atento poderia não entender este sentimento. Em primeiro lugar, pelo seu povo, pelo povo judeu que aqui chegou, que aqui se integrou na nossa nacionalidade, e que especialmente aqui, no Rio Grande do Sul e aqui em Porto Alegre, representaram e representam até hoje um importantíssimo segmento de nossa sociedade e que participam real e efetivamente de todos os aspectos que se possa levantar de uma comunidade. Tem representantes exponenciais nas letras e nas artes; tem representantes exponenciais na educação e na cultura; tem representantes exponenciais no comércio e na indústria. Acresce-se ainda o fato de que a criação do Estado de Israel ocorre através de uma atuação e de uma ação de um brasileiro, na célebre Assembléia Geral da ONU, presidida por Osvaldo Aranha. Não bastassem todos esses fatos, que aproximam e unem o Brasil a Israel, o povo brasileiro ao povo judeu, ainda haveria o extraordinário exemplo que Israel dá ao mundo, na sua luta milenar por sua nacionalidade. Se a sobrevivência do povo judeu através de milênios é, indiscutivelmente, um milagre, eu diria que, hoje, é quase milagrosa a sobrevivência de Israel como Nação e a sobrevivência de Israel como Estado. Todos nós conhecemos, alguns mais profundamente, outros, mais superficialmente, mas todos nós acompanhamos, através do noticiário, através da imprensa, através do rádio e da própria televisão, a luta diária. E não vai aqui nenhuma força de expressão e não vai aqui nenhuma figura de retórica, mas o esforço realmente diário que o povo israelense é obrigado e tem que realizar para manter a sua unidade e a sua soberania. A luta de Israel para sobreviver como Estado e como Nação é a própria luta do povo judeu para sobreviver como povo, é um exemplo que deve ser examinado, estudado, que deve ser dissecado pela sua importância e pelo seu significado, pela própria História da humanidade. Se estudarmos a trajetória, através dos séculos, do povo judeu, estaremos estudando a História da humanidade, nos seus aspectos mais variáveis e talvez estejamos tomando conhecimento e analisando, no estudo desta História, o que de pior existe no homem através das perseguições que sofreu e que sofre ainda este povo, e também o que existe de melhor no homem, na sua capacidade de resistir e de amar e de viver unido. Pois, apesar, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, de todas estas dificuldades, apesar de todas as lutas permanentes, Israel consegue ser um exemplo de democracia, consegue ser um exemplo de amor à natureza, de amor à terra, consegue ser um exemplo de estrutura de ensino e de educação.

Todos esses fatos somados, não apenas explicam e justificam, mas, mais do que isso, muito mais do que isso, o somatório desses fatos leva a que esta Sessão Solene tenha um significado muito mais amplo do que uma mera homenagem, do que um simples registro no transcorrer de um aniversário, que ela nos sirva, Sr. Presidente, como um marco, como um dia propício e indicado para se pensar, se reexaminar através dos acontecimentos, o posicionamento de cada um, tendo por base o magnífico exemplo que o Estado de Israel e o povo judeu dá a toda humanidade, exemplo de amor, exemplo de dedicação e exemplo de fé. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Jorge Goularte. S. Exa. falará em nome da Bancada do PL.

 

O SR. JORGE GOULARTE: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, comunidade judaica, Senhores e Senhoras, mais um aniversário da Independência de Israel que se comemora nesta Casa.

Aproveito o ensejo quando faço, amanhã, 13 anos de Câmara de Vereadores, para tomar a liberdade de fazer uma prestação de contas do porquê amo tanto essa comunidade, bem como ao Estado de Israel. Porque, ao longo desses anos, desde 1975, já tomei uma posição ao infeliz voto do meu País na ONU, quando declarou o sionismo como racismo. Naquele ano, já se vão 13 anos, quando era difícil expressar-se livremente, ao assumir uma cadeira nesta Casa me manifestava radicalmente contrário ao infeliz voto, repito, de um Chamberlain moderno que votou contra o Estado de Israel na ONU.

Ao longo desse tempo venho observando o comportamento do povo judeu e dos povos que os hostilizam. Foi observando os comportamentos desses povos que, cada vez mais, fortaleceu-se em mim o desejo de que Israel consiga o que tanto almeja e que por muitos é incompreendido nas suas aspirações. Quando se fala, e se fala muito que o povo palestino quer o seu território, porque não o teve em 47, quando a ONU determinou que se houvesse dois territórios, um aos palestinos e outro ao povo judeu? O que fizeram? Quiseram apagar da face da terra o Estado de Israel. Israel não tem culpa disso. Agora, quando se critica tanto, nesses tempos que estamos vivendo, os problemas dos territórios ocupados, se credita a Israel a culpa pelo que acontece naqueles territórios, mas quando Israel recebeu aqueles territórios destroçados, arrasados, miseráveis, com desemprego de quase 50% do lado masculino e de 40% do lado feminino, Israel tentou de todas as formas criar um nível de vida digno para aquele povo.

Mas, como não interessa à OLP da vida, aos Iarafat, aos Kadafis, o que interessa é a miséria para que continue o ódio contra Israel. Na década de 80, já, Israel teve que fazer uma incursão numa legítima defesa preventiva contra a chamada Usina Nuclear do Iraque, que de Usina não tinha nada. E vejam bem, hoje se tivesse aquilo proliferado, com a guerra que temos lá, o que poderia acontecer aos territórios vizinhos? Naquela oportunidade, também, me manifestei, e me parece que mais uma vez, sozinho em todo o Brasil, porque entendia que era um direito legítimo de preparar-se para a defesa. “Si vis pacem, para belum”. Se queres a paz, prepara-te para a guerra.

Israel tem que fazer isto, porque é fustigado, porque não o deixam viver em paz no seu território e procuram atacar ao longo das fronteiras os “kibutz” indefesos. E se vê nos jornais que Israel atacou, matou tanto. Mas não se fala quanta gente morreu por Israel, pelo lado de Israel.

É como aqui, nós temos um problema em nosso País, os chamados direitos humanos. Quando morre um marginal por um problema policial sai em manchetes de primeira página, agora, quando morre um policial militar ou civil sai num fim de página ímpar. É assim que se conduzem os conceitos em relação ao que se quer distorcer nas informações que são dadas.

Mas eu permaneço firme na minha posição, e por que faço questão de prestar contas, hoje, aqui? Porque nós, políticos e democratas, sabemos perfeitamente o que nos espera e o que pode acontecer. É possível que hoje seja a última vez que eu me dirijo ao Povo Judeu na sua independência. É possível! Por que não? É até bem possível. Teremos eleições este ano. Não sei se retorno para cá. Mas, se não retornar fica a certeza exata de que tudo o que fiz aqui, especialmente por este povo, pelo Estado Judeu foi do coração, do fundo da minha alma, sem nenhum problema de querer retribuição, porque então não falaria. Por sinal, ao que me consta, pelas observações que faço, apenas nesta eleição é que eu tive votação grande da comunidade judaica. Então, é uma prestação de contas que se impõe. Eu sou muito grato pelo apoio que tive e, aqui, presto conta dos modestos pronunciamentos que fiz.

Há pouco tempo, nesta Casa, eu tive mais uma prova das diferenças de comportamentos e de tentativas de paz. Contra o meu voto, foi tentado prestar, nesta Casa, uma homenagem ao povo palestino. Fui contra, repito, mas democrata que sou aceitei. O que aconteceu? Ao invés de agradecerem esta honraria de serem homenageados por esta Casa, inundaram-na de faixas contra Israel, como se Israel é que tivesse culpa de que eles, apenas uma vez - e tomara que seja a única – tenham sido homenageados por esta Casa. “Abaixo Israel”, “Morra Israel”, etc. E eu pergunto: mas tinha que ver alguma coisa com isto? Não. Era uma homenagem a eles, a meu ver imerecida, mas tudo bem. Fui acusado de tentar impedir a reunião. Já contei até a comunidade a providência que tomei. Como era o mais antigo – era uma homenagem num Grande Expediente – fiz a chamada, não tinha “quorum” encerrei a Sessão. Não tendo Sessão, não teria homenagem. Desejei? Sim, mas fiz tudo dentro do Regimento Interno. E fui agredido por isto, mais uma vez. O David Iasnosgrodski já me acompanhou em outra agressão e sabe o que aconteceu naquela oportunidade, também. Mas nós somos firmes nas nossas posições. Não sou de ficar em cima do muro, visto uma camiseta e defendo aquele time. O outro é meu adversário. Tanto que, agora, critiquei a tentativa do Brasil – é um balão de ensaio, tomara que não se concretize – de reconhecer uma organização clandestina com status de embaixada. Era só isto que nos faltava! A covardia, o rastejamento de um País que já vem desde 1975 com problemas de petróleo! E, agora, se tenta, mais uma vez, praticar uma barbaridade destas, que é reconhecer uma entidade terrorista mundial, com “status” de embaixada.

Sei que sou ameaçado por aí, e dizem que vai me acontecer alguma coisa, tudo bem, isso também faz parte da própria vida. Mas era isso, foi para isso que eu vim aqui, para prestar contas, modestas, o mais modesto Vereador do sul do mundo, como eu costumo dizer, e que tem um prazer enorme de ter amizade com Lapchik, Faermann, Burd, Frankenstein, Kapel, Dubin, Iasnogrodski, Máster, Wienberg, Soildermann, Gringsberg, Alperin, e tantos outros sobrenomes e se eu não voltar para esta Casa, no próximo ano não estiver aqui, quero estar ali, junto com todos vocês. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos apalavra ao Ver. Aranha Filho, que falará em nome da bancada do PFL.

 

O SR. ARANHA FILHO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, comunidade judaica, convidados.

Não se entrega um Estado a um povo em bandeja de Prata. As palavras de Jaim Weizmann são válidas, ainda, após 40 anos da criação do Estado de Israel. Durante todo esse tempo, o pequeno território de Israel tem experimentado, a cada dez anos, uma guerra. Na verdade, tinha razão Jaim Weizmann: Um povo não recebe de mão beijada, de graça, um Estado. Deve lutar por ele, sempre, cada dia, cada minuto, a cada segundo. A liberdade não se recebe, se conquista. Outra coisa não tem feito o bravo povo israelense. Contudo, nestes quarenta anos de Estado, os israelenses só tem um desejo, ardente, forte, apaixonante: a paz.

Participando do banquete oferecido pela Federação Israelita, em comemoração ao quadragésimo aniversário do Estado de Israel, vi este fato comprovado, através do discurso pronunciado pelo Sr. Embaixador Jtzak Sarfaty.

A paz foi a tônica da oração, a paz foi a mais sentida prece que o diplomata fez. Somente por meio do diálogo, da compreensão e da tolerância. A paz poderá surgir, para por termo aos conflitos que marcam, ainda, de angústia e sofrimento a histórica Palestina.

É o nosso desejo e a nossa esperança.

De esperança e respeito à História, reflito que determinadas pesquisas e investigações tornam, às vezes, madrasta dessa mesma História para certos vultos da pátria.

Assim, Joaquim José da Silva Xavier - o Tiradentes – aparece mulherengo, língua frouxa e sonhador. E meu tio, Osvaldo Aranha se transforma, num passo de mágica, em um anti-semita. Até livros são escritos para delinear-se o novo perfil dos personagens da História do Brasil. E pouco importa que seja pouco o tempo transcorrido entre o fato e o registro e tampouco que existam, em fatos recentes, testemunhas ainda vias. O chanceler Aranha passa a fascista e afirma-se que seu intento, ao prolatar o voto decisivo para a criação do Estado de Israel, foi o de se verem, Brasil e Estados Unidos, livres dos judeus que nestes países viviam, se esta foi a intenção, nada adiantou: Hoje existem no quarentão Israel, três milhões de judeus, e fora dele, no mundo, nove milhões.

São fatos que não desfiguram, em absoluto, a verdadeira imagem que se tem dos heróis autênticos e dos estadistas de fato. Aliás, tudo vem a propósito do aniversário do Estado de Israel para cuja existência meu tio muito contribuiu. Na parede do meu gabinete, entre fotos de Osvaldo e de meu pai, há um quadro que, num fundo branco, diz em letras azuis, pretas, verdes e amarelas, o seguinte:

“Brasil-Israel, ONU, Osvaldo Aranha: uma data, um homem, uma amizade”. A data é de 29 de novembro de 1947, do voto decisivo de meu tio em nome de Brasil para a criação do Estado de Israel. A amizade é que a une brasileiros e israelenses e, um homem, é referência a Osvaldo Aranha. Escreveram-se, igualmente, alguns artigos de críticas a Osvaldo Aranha que teria sido mau estrategista em combate da Revolução de 30 e que teria errado, também, quando deu voto a favor da criação do Estado de Israel. Erros à parte, posso afirmar que, sem medo de errar, nos dois momentos, no combate e na decisão da ONU, meu tio foi um homem.

Há fatos incontestes. Mesmo para pesquisadores de bom quilate, se pode negar que, fosse ou não mulherengo, loquaz e utópico ou mau líder, Joaquim José da Silva Xavier, foi um inconfidente: que a insurreição mineira houve de fato e que ele, por ela, a inconfidência, morreu na forca. Real, igualmente, é que um jovem acadêmico, Demócrito de Souza, herói da liberdade ao tempo da ditadura Vargas morreu num comício, não pelas “diretas já” mas pelo retorno da democracia no Brasil. Se amanhã ou depois, outros pesquisadores descobrirem que Demócrito foi um mau aluno ou estudante profissional, não podem, de jeito algum desfigurar sua bravura e o símbolo que representa para sus pósteros na luta anti-ditatorial. Do mesmo modo pode-se afirmar tudo sobre Osvaldo Aranha em matéria de ideologia, pois o papel aceita tudo e a democracia é o reino das consciências onde se devem respeitar, acima de tudo, todas as idéias, mesmo as que não defendemos.

Israel faz quarenta anos de Estado livre e soberano. Nestas quatro décadas esteve sempre envolvido em guerras pelos que até hoje não reconhecem uma nação, um povo livre, ordeiro, trabalhador. Muito sangue generoso de seus filhos foi derramado e continua sendo pela intransigência de alguns. Contudo, repito que o povo israelense é totalmente voltado à paz e está ciente de que só o diálogo, só a fraternidade pode extirpar, de vez, a angústia e o sofrimento, marcas tristes da Palestina de hoje. Mas a data é de alegria, de júbilo pelos quarenta anos do Estado de Israel. O que desejamos, com ardor, é que se concretizem, como até agora, os dizeres do quadro do meu gabinete: Brasil e Israel, 29 de novembro de 1947; Osvaldo Aranha: uma data, uma amizade e um homem.

Queiram ou não queiram, o Estado de Israel é um fato, uma realidade palpável e digna de elogios. Outra verdade indesmentível é o voto de Osvaldo Aranha. A História do Brasil não nega ter sido ele um dos seus maiores estadistas. Estas sim são irredutíveis verdades e não meras especulações. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Sr. Ver. Antonio Hohlfeldt que falará em nome da Bancada do PT.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr Presidente e Srs. Vereadores, Companheiros, Senhoras e Senhores. É uma honra e uma responsabilidade para eu falar, hoje, nesta Sessão Solene em meu próprio nome e no de meu Partido – o Partido dos Trabalhadores – que aqui represento.

Todos conhecemos as contradições aparentemente existentes entre o PT e a comunidade judaica brasileira. Entendo, contudo, que esta é uma excelente oportunidade para que se diga, em alto e bom som, que, na verdade, tais contradições são exatas e apenas aparentes, eis que a verdadeira contradição reside nos interesses opostos entre capitalistas e socialistas, de explorados e exploradores, entre ricos e pobres, e não entre um partido e uma comunidade que, indiscutivelmente, enriqueceu cultural e materialmente a nosso País.

Não gostaria, contudo, nesta hora, de fazer um discurso solene, da mesma forma em que tenho a preocupação de não cair no lugar comum de um elogio fácil, de uma reflexão imediatista, às vezes até maniqueísta. Com a responsabilidade que a Liderança do PT, nesta Casa me obriga, pois, busquei entre amigos e conhecidos da comunidade judaica de Porto Alegre, pessoas a quem admiro, respeito e prezo, orientação e ensinamento.

Quarenta anos de um homem é o início do termo da sua vida. Quarenta anos de um Estado é menos que o começo da vida deste Estado. Quero, pois, trazer aqui, com a humildade de quem, provavelmente desconhece muita da realidade do Estado de Israel, alguns elementos que selecionei deste aprendizado, nos anos que vivi preocupação em sintetizar em conversas dos últimos dias, ante a tarefa que me propunha de falar ante os Senhores.

Fixemos, antes de mais nada, que a idéia de Theodor Herzl de criação de um Estado Judeu era, em si mesmo, uma idéia progressista; pretendia-se, não apenas a constituição de um Estado Judeu em si, como a criação de uma espécie de cunha, uma ponto, um apoio capaz de modernizar e fazer progredir toda aquela região. Os choques surgidos com parte da comunidade envolvente, os choques alimentados por diferentes interesses internacionais ali presentes, algumas contradições internas das próprias comunidades impediram, em parte, desde então, tal utopia. Mas tenho certeza, não a inviabilizaram.

Existem contribuições inequívocas do Estado de Israel à comunidade mundial. A mim me chama, especialmente atenção, por exemplo, o aporte técnico-científico que o Estado de Israel traz, e este é um aspecto mais imediato. Na área da medicina, por exemplo, a contribuição, inclusive, com a socialização da medicina é notável. Poderemos talvez, lastimar a indústria bélica. Ou poderemos discordar da pesquisa no campo atômico-nuclear, independentemente do contexto bélico específico vigente.

Devemos, também, destacar as questões agrícolas, bastando citarem-se os atuais acordos entre Israel e Egito, nesta área, que favorecem não apenas a sobrevivência dos judeus que ocorrem de toda as partes do mundo à sua pátria, como também dos mais de cinqüenta milhões de egípcios que perambulam fora do Vale do Nilo.

Para mim, no entanto, que faço política-partidária, sem dúvida alguma, Sr. Presidente e Srs. desta Mesa, o aporte político trazido por Israel com uma evidente democratização ao menos de uma área desta região é o aspecto mais importante.

Podemos, evidentemente, discutir as limitações tradicionais que uma democracia formal e clássica nos coloca, como ainda me dizia, um dia desses, pela manhã, um companheiro que aprendi a admirar e pretendo manter como amigo Jhimon Farhad, que aqui esteve em Porto Alegre. Mas não podemos esquecer que, desde 1949, Israel é a única democracia estável de toda a região, com um Governo descentralizado, com a sucessão e alternância de partidos políticos, uma oposição e situação muitas vezes digladiando-se até a exaustão, mas com aspectos e desta luta favorecem inclusive o desenvolvimento pleno dos meios de comunicação, bastando lembrar-se que existem diários árabes e palestinos, existem emissões em rádio e tevê em idiomas variados, inclusive nas áreas ocupadas, ou seja, independentemente, de qualquer pressão externa, é a própria realidade israelita que faz com que este País se mantenha fiel a um sonho original de um Estado democrático, fazendo inclusive com que, desde 1948, pela primeira vez em 1975 ocorressem eleições democráticas nas áreas ocupadas.

Um outro aspecto não menos importante no Estado de Israel é o fato de que inequivocamente ele se transformou num verdadeiro laboratório de experiências humanas as mais variadas, com diversos sistemas econômicos, como a presença, ainda que minoritária dos Kibutsin, mas não no seu significado das suas indústrias magníficas, por exemplo, na área do automóvel ou a economia mista do mushabin ou ainda a fantástica força social dos 1,5 milhão de associados da Central Operária Istradut que é capaz de viabilizar um verdadeiro acordo social que derruba a marcha inflacionária do País que temos buscado tão dificilmente no Brasil.

A criação de Israel, inegavelmente, foi propiciada por uma vontade de redenção de uma dívida da humanidade para com os Judeus através da decisão histórica – diga-se da dupla decisão histórica da ONU, criando o Estado de Israel e o dos palestinos. Mas, é bom que não esqueçamos, tal decisão não se teria tornado concreta, real, objetiva, se não houvesse a força interna dos judeus, conjugada a uma ação externa, capaz de viabilizar este Estado. E é, sobretudo este reconhecimento de que a organização é que efetivamente viabilizou a realidade que hoje fixamos nesta Sessão Solene, que nos dá também a certeza de que, com o tempo, igualmente a contradição hoje experimentada, do choque entre o Estado de Israel e a comunidade palestina, será resolvida.

E por que isto?

Há mais de uma década, quando residi no Canadá, tive a oportunidade de assistir a um filme, chamado “Por que Israel?”, do realizador judeu-francês Claude Lanzmann, com que depois vim a conversar, entrevistando-o para a Rádio Canadá, onde eu trabalhava.

Contava-me ele que resgatara suas memórias a partir do reconhecimento do morticídio de sua família durante o Holocausto, o que lhe colocara a questão básica que motivara e dera título ao filme. Identificava o realizador algumas contradições fundamentais e viscerais no Estado de Israel, mas, ao mesmo tempo, reconhecia que só a discussão e a análise dessas contradições viria permitir que elas fossem resolvidas. Mais do que isso, negando-se a ratificar qualquer defesa de determinismos de direita ou de esquerda, afirmava a força do Homem como sujeito da História e, conseqüentemente, como um ser capaz de modificar uma dada realidade: os aparentes choques entre palestinos e israelitas, entre árabes e israelitas, na verdade, não seriam choques entre um universo feudal e um outro, moderno e capitalista, apenas, mas sim choques de interesses que se aproveitam de tais situações para dividirem e, na divisão, reinarem. E ratificava sua crença de que, um dia, Israel seria capaz de ultrapassar estas contradições, da mesma forma que vinha ultrapassando as divergências entre orientais e ocidentais – ou seja, entre sefaradin e ashkenazin – ou entre o conservadorismo árabe, judeu ou muçulmano e as profundas modificações nos usos e costumes trazidos pelo Estado através da escola, das relações familiares, da industrialização, etc. Enfrentando problemas bem mais profundos, como a oposição entre setores religiosos e laicos, o Estado se afirmara e não haveria por que de sucumbir ao desafio que desde então se colocava. Nesta ocasião, nesta oração e nesta palavra que trago, em meu nome pessoal, e dos companheiros do PT, como membro não judeu da Comissão dos Assuntos Judaicos do PT, em nível nacional, como organizador de coletânea de estudos que estamos preparando para um lançamento ainda neste semestre, quero ratificar. Srs. da Mesa, minhas senhoras, meus senhores, esta crença, da mesma forma que entre Palestinos, existem os que querem a conversação política e pacífica, ao invés das armas, não tenho dúvidas, de que em Israel existem aqueles que sabem do reconhecimento das duas realidades, é, exatamente, o caminho para a plena paz da região. E da mesma maneira que refutamos os choques entre as comunidades Judaica, no Brasil, e o PT, resultado, sobretudo de segmentos que na verdade combatem teses socialistas que defendemos, mais do que defender o direito à identidade do Estado de Israel e dos judeus em todo o mundo, quero registrar o meu respeito e a minha alegria por participar deste ato.

Já disse, em certa ocasião, nesta mesma Casa, e repito hoje, tenho, entre alguns que considero meus melhores amigos, e pessoas pelas quais luto, estimo e respeito, membros da comunidade judaica. Tenho certeza de que um dia estaremos reunindo aqui, neste Plenário, judeus e palestinos, assim como um dia, sei, poderemos festejar a abolição das armas atômicas, mas, sobretudo, que a data de hoje sirva para que eu diga, de viva voz, o quanto valorizo a existência de Israel, seu sucesso será também um pouco a vitória de cada um de nós, que não acreditamos na xenofobia contrária à dupla identidade nacional, capaz ela sim de borrar fronteiras e levarmos uma realidade de paz sem falsos nacionalismos; e quem melhor do que os aspirantes da Palestina, quem melhor do que estes que são, ao mesmo tempo, brasileiros e judeus, brasileiros e palestinos, para concretizarem tal utopia? Um dia, tenho certeza, ela será realidade, e Israel terá tido uma participação singular na concretização da paz universal. É a nossa palavra e participação neste ato. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa concede a palavra ao proponente desta homenagem, Ver. Isaac Ainhorn. S. Exa. falará, nesta oportunidade, em nome das Bancadas  do PDT e PMDB.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente, Srs. Vereadores minhas Senhoras, meus Senhores. Registro aqui, inicialmente, a importância desta Sessão Solene que a Câmara de Vereadores de Porto Alegre realiza no dia de hoje, por ocasião dos 40 anos de fundação do Estado de Israel. Registro aqui, Sr. Presidente e Srs. membros da Mesa, a importância das manifestações havidas nesta Casa, que são a mais pura expressão da representação política da Cidade de Porto Alegre, nos seus diferentes matizes ideológicos, políticos e partidários. Lamento apenas que, por motivos particulares, o representante do Estado de Israel que privou aqui conosco em nossa Cidade de cerca de 5 dias, teve que se afastar e não pode assistir, na condição de representante do Estado de Israel, S. Exa. o Sr. Embaixador Isaac Sarfat, o ato que hoje se realiza nesta Casa.

Porto Alegre, neste momento, através da presente Sessão Solene, que não é simplesmente uma Sessão de natureza puramente formal de realização de um ato de comemoração de aniversário de um país. Não. É uma manifestação muito firme, muito vigorosa, da representação política da Cidade de Porto Alegre e que representa e dá força para que o Estado de Israel, no concerto das nações, continue a gozar do prestígio que gozou e goza desde a sua fundação em 1948. Assumo aqui, hoje, esta tribuna, uma lágrima, uma flor e um lenço branco. Sim, tem uma expressão extremamente simbólica. A colonização do solo gaúcho é recente, foram os índios e os negros que precederam as levas de imigrantes europeus vindos mais recentemente. Dessa formidável mistura foi surgindo o belo exemplar humano que é o gaúcho. Sua beleza reside, exatamente, em sua origem múltipla. Esta Casa, com seus membros expressando a representação popular da Cidade de Porto Alegre ou proveniente também das mais variadas descendências, é o espelho da nossa formação étnica, em razão do que, não teme os desafios futuros. Minhas raízes, meus ancestrais, provêm da velha Polônia, para onde os judeus se dirigiram há mais de mil anos, mantendo sua fé, seus valores e suas tradições, transmitindo-me este legado universal e fazendo com que me oponha aos dogmas, aos extremismos, à xenofobia.

Por ser judeu, tenho o pó na pele e na bagagem, e tenho esperança na alma. Dentro de mim bate um coração gaúcho que, por momentos, ri de alegria e, em outro, chora com as injustiças. Este coração gaúcho e judeu, que se identifica com os oprimidos, com os fracos e com os desafortunados, ri de felicidade quando eles alcançam, não a misericórdia, mas sim a justiça.

Foram vinte séculos de sofrimentos e perseguições, e nenhum povo conseguiu resistir tanto como o povo judeu. Ele aí está ele aí vive, ele tem nome, ele se chama Estado De Israel.

A Câmara de Vereadores de Porto Alegre realiza hoje Sessão Solene, cujo objetivo é comemorar o quadragésimo aniversário da Independência do Estado de Israel.

O surgimento deste Estado foi possível pela confluência de vários elementos, dentre os quais destaco três principais.

O primeiro e básico foi o Movimento Sionista, iniciado por Teodor Hertzel no final do século passado em plena Europa. Jornalista austríaco, correspondente do jornal “Neue Freie Presse”, foi designado para cobrir, na França, um rumoroso caso de espionagem, o Caso Dreyfus. E, o que foi o célebre caso Dreyfus? Foi um momento de loucura da justiça militar francesa, que não tendo outros culpados, e utilizando o ódio nacional, sem ter mais provas culpou o Capitão Dreyfus pelo mero fato de ser judeu, condenando-o à prisão perpétua. Testemunhas foram forjadas para denegrir um homem honrado. O verdadeiro responsável jamais foi encontrado. Dreyfus estava condenado antes mesmo de adentrar a sala do julgamento. Uma condenação racial já existia. Ele perdeu sua honra, suas patentes militares e foi trancafiado na Ilha do Diabo, aqui na Guiana Francesa na América do Sul.

Teodor Hetzel também era judeu, porém muito distante das suas tradições. O que viu em Paris transformou a mínima brasa da sua religião judaica numa fortíssima chama, e eu o inspirou para escrever, de um só fôlego. O livro que seria a base para o estabelecimento do moderno Estado judeu. Nele, apenas uma pátria poderia resolver o problema do anti-semitismo moderno. Uma pátria onde a maioria judaica, dispersa na Diáspora, se reunisse e constituísse um Estado soberano. Seu pensamento e ação voltaram-se para a terra de seus antepassados, fazendo com que um obscuro vienense se transformasse no visionário do sionismo político.

O segundo fator histórico importante para o surgimento do Estado de Israel foi a partilha da Palestina. Os ingleses presentearam o Rei Abdulah como 90.000 quilômetros quadrados, criando a Jordânia, restando 30.000 quilômetros quadrados que foram divididos entre os judeus e os árabes na famosa Assembléia de Novembro de 1947.

Um dos orgulhos do povo judeu é a sua memória histórica. O povo judeu não esquece seus amigos. Osvaldo Aranha, homem nascido neste abençoado solo gaúcho, foi o Presidente da Assembléia Geral da ONU que aprovou a partilha. O reconhecimento do Estado de Israel para com o Dr. Osvaldo Aranha e todos os que lhe são próximos é eterna.

O terceiro fator histórico foi a ousadia de um punhado de líderes judeus, em que se destaca a figura carismática de David Ben Gurion, que se encontra entre o seleto grupo dos grandes homens da história contemporânea.

Desta forma, há 40 anos atrás, naquele solo sagrado, cada palmo de terra foi defendido para que se materializasse o velho sonho de criação do Estado judeu, tão bem expresso na declaração de Independência do jovem Estado. Cabe aqui, enfatizar os termos daquela declaração: (Lê.)

“O Estado de Israel ficará aberto para a imigração judaica e para o retorno dos Exilados; fomentará o desenvolvimento do país em benefício de todos os seus habitantes; será fundamentado na liberdade, justiça e paz, conforme foi contemplado pelos profetas de Israel. Assegurará completa igualdade de diretos sociais e políticos a todos os seus habitantes, sem distinção de religião, raça ou sexo; garantirá a liberdade de cultos, consciência, língua, educação e cultura; preservará os lugares santos de todas as religiões, e será fiel dos princípios da Carta das Nações Unidas.

Estendemos nossas mãos a todos os Estados vizinhos e seus povos, numa oferta de paz e boa vizinhança, apelando para eles no sentido de estabelecer liames de cooperação e ajuda recíproca com o povo judeu soberano, estabelecido em sua própria terra. O Estado de Israel está pronto a dar sua parte no esforço comum pelo progresso do Oriente Médio”.

Isto foi escrito há 40 anos atrás na célebre declaração do Estado de Israel.

Se na parte da educação, ciência, tecnologia, no avanço da agricultura, no florescimento dos exércitos, Israel conseguiu atingir seus objetivos, de outro lado, infelizmente para o Oriente Médio. A vocação dos judeus através da história tem-se caracterizado pelo alto espírito de solidariedade humana, liberdade e justiça social. A busca incessante da paz para o Oriente Médio é para Israel uma questão de sobrevivência pois, sobretudo, considerando-se as suas dimensões e as dos Estados árabes com quem faz fronteira, basta-se ter uma idéia de que no Rio Grande do Sul cabe exatamente treze Estados de Israel. E, dentro deste propósito, David Ben Gurion, em 1960, afirmava estar disposto a encontrar-se com Nasser, no local que escolhesse, dialogando quantas horas fosse preciso para conseguir a paz e mesmo uma aliança, tendente à cooperação cultura, econômica e política. Anos mais tarde, Israel e Egito conseguiram chegar a um acordo, abrindo mão o Estado judeu de ricos territórios, na procura eterna da almejada paz duradoura para o Oriente Médio. E, hoje, quando, mais uma vez, articulam-se os antigos inimigos de Israel, de novo, este não se opõe a restabelecer conversações para obtenção de uma paz permanente no Oriente Médio, mas que tem por pressuposto básico e imprescindível discutir com interlocutores que renunciem à violência e ao terrorismo, como prática política.

Até hoje os representantes da Organização da Liberdade da Palestina, a OLP, não renunciam ao seu programa, vale dizer, à sua Carta Constitucional, expresso no Pacto Nacional Palestino, que no seu artigo 9º afirma: (Lê.)

“A luta armada é o único caminho para a libertação da palestina. Esta é a estratégia total, não meramente uma fase tática. O povo árabe palestino afirma sua absoluta determinação e sua inflexível resolução de continuar a luta armada e trabalhar por uma revolução popular armada para a libertação de seu país e seu retorno a ele”. Enquanto não renunciarem ao princípio que acabei de ler, do art. 9º, do Pacto Nacional Palestino, é impossível um diálogo com aqueles que pretendem nos exterminar e pretendem nos jogar ao mar. Por tudo isto, os esforços na busca da paz esbarram nas ações armadas da OLP e na intransigência dos países que pretendem manter o Oriente Médio como foco de tensões permanentes e da guerra fria, perpetuando também, lá no Oriente Médio, os interesses mais reacionários, os interesses mais conservadores dos senhores feudais dos países árabes.

Enquanto isto assistimos, em nome de um indiscutível política de pragmatismo, a alguns dirigentes governamentais de nosso País pretenderem dar guarida a uma organização que, ao longo dos anos, tem mantido os mais diversos pontos do globo em constante apreensão, em razão das suas ações terroristas. Sr. Presidente e Srs. Vereadores, os 40 anos da Independência do Estado de Israel representam a continuidade de reencontro, perseguido durante séculos pelos judeus, com o seu destino e com o seu lar nacional, que segue permanentemente ameaçado e que tem no sionismo o conceito de libertação e de devoção à terra de Israel. Pode-se dizer que o sionismo tem tanta idade como o exílio do povo Judeu. A esperança do retorno a Sion nasce no dia em que os judeus foram deportados de sua terra, pelos babilônios, há 2.500 anos.

Em que pese a hostilidade árabe, o sionismo, como movimento de libertação do povo judeu, conseguiu, nestes 40 anos, implantar o único Estado democrático no Oriente Médio, dotado de um parque agrícola, industrial, tecnológico, científico, que causa inveja aos países mais desenvolvidos do planeta. E isto apesar de, em seus 40 anos de existência, se encontrar em guerra com os seus vizinhos e com focos de tensão dentro do seu próprio Estado. Por tudo isto, a nossa repulsa à Resolução das Nações Unidas que considerou o sionismo como forma de racismo.

A este propósito, cumpre nesta Sessão Solene, em que comemora o 40º aniversário do Estado de Israel, relembrar aqui o compromisso não resgatado da Nova República, do inesquecível homem público, Tancredo Neves: “Igualar sionismo ao racismo é mais do que um erro é uma estupidez. No meu governo, eu vou rever este comportamento”. Infelizmente, Tancredo Neves não sobreviveu para que esse ato se transformasse em realidade e se constitui num compromisso até hoje não resgatado. As palavras de Tancredo Neves ganham extraordinária relevância no momento em que a sociedade brasileira através da Assembléia Nacional Constituinte reavaliar as posições adotadas pelo governo durante o período de arbítrio. O voto de apoio à resolução anti-sionista na ONU enquadra-se nesta categoria.

Compareço hoje, nesta tribuna, com uma lágrima, uma flor e um lenço branco. A lágrima vertida pelo sofrimento do povo judeu nos últimos vinte séculos, e que teve na contemporaneidade dos 50 anos passados a página mais hedionda da história da humanidade: O Holocausto, em que seis milhões de judeus foram dizimados nas câmaras de gás, nos campos de concentração, e que algumas vozes a serviço do neonazismo nos dias de hoje teimam em negar como verdade histórica. A flor simboliza o antigo deserto, hoje florido. E o lenço branco, a expressão da paz.

Independência, Sr. Presidente, é liberdade política. Liberdade não se ganha, se conquista. Há 40 anos, Israel obteve sua liberdade, sua independência e sua soberania. Não sem luta, não sem o sangue generoso dos que a conquistaram. Mas, acima desta luta, o que é invejável, admirável e exemplo para todas as nações, é que o Estado de Israel continua em sua perpétua luta para manter esta liberdade, a sua soberania perante o mundo. Uma conquista diária, constante, mantida minuto a minuto, segundo a segundo, com o sangue de seus filhos, os cidadãos de Israel. Um perpétuo estado de beligerância, para manter o bem maior do homem: a sua liberdade. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convido o proponente desta Sessão Solene, Ver. Isaac Ainhorn, a fazer a entrega do troféu “Frade de Pedra”, que significa para nós amizade e fraternidade, ao Sr. Presidente da Confederação Israelita.

 

(O Ver. Isaac Ainhorn procede à entrega do Troféu.)

 

Neste momento temos a honra de conceder a palavra ao Dr. Abrahão Faermann Sobrinho, Vice-Presidente da Confederação Israelita do Brasil.

 

O SR. ABRAHÃO FAERMANN SOBRINHO: Sr. Vereador Brochado da Rocha, Presidente da Câmara de Vereadores de Porto Alegre; Prezados Companheiros comunitários; Dr. Jairo de Souza, neste ato representando S. Exa. o Secretário da Justiça do Rio Grande do Sul; Cel. Paulo Bortoluzzi, representando, neste ato, o Sr. Comandante-Geral da Brigada Militar; Jornalista Wilson Muller, representando, neste ato, a Direção da RBS; ex-Prefeito João Antônio Dib; minhas Senhoras; meus Senhores.

A comunidade judaica do Rio Grande do Sul, por seus dirigentes, também com a participação da organização Sionista do Rio Grande do Sul, que nos confere falar também em seu nome, recebe os cumprimentos da Cidade de Porto Alegre através da sua Câmara de Vereadores. Esse encontro anual já quase uma rotina, encontra uma comunidade, a judaica, jubilosa, pois se comemoram quarenta anos de existência do Estado de Israel.

Temos um orgulho, como representante de entidades judaicas, de que há um profundo respeito pelo aniversário da Independência do Estado e, que a data, independente de partidos ou representantes nessa Casa, não passa desapercebida. Sabem os Senhores que esta é uma iniciativa desta Casa e não lembro qualquer dirigente judeu que tivesse que se antecipar, por pedido, à iniciativa dos Senhores.

Existem centenas de nações independentes como bem lembrou o Ver. Rafael Santos.

Poucas, ao que sabemos, tem as suas datas nacionais evocadas por esta Casa.

Por que Israel? Questão que cabe a partir da premissa que a iniciativa é desta Casa. E então me permita ajuizar e me aproximar do sentimento dos Srs. Vereadores. Não terá sido a saga trágica e, ao mesmo tempo, marcante, caminhada judaica de milhares de anos? Não terá sido o Holocausto que ceifou milhões de vidas de homens, mulheres, crianças por ostentarem como um crime para os algozes a sua condição judaica? Não será a figura de Osvaldo Aranha, hoje objeto de discussão histórica sobre sua efetividade à causa judaica, mas, para todos os judeus, indiscutivelmente, alicerce da posição brasileira na ONU, em 1947 favoreceu a criação do Estado Judeu na Palestina? Não será o tremendo risco que Israel correu em 1948-49, em 1963 e 1967 de desaparecer, atirado às águas do Mediterrâneo, com vários países vizinhos armados ameaçando seu aniquilamento?

Não se poderia cogitar que o milagre, que o trabalho produziu, transformando desertos e pântanos tenham sido a fator de influência?

Quem sabe a tecnologia que fez de Israel um contribuinte constante à erradicação de doenças, co-partícipe de dezenas de projetos científicos mundiais?

São todas hipóteses plausíveis. Eu arriscaria dizer que, este Legislativo Municipal de tradições democráticas e de exemplar comportamento no que diz respeito à integridade e devoção ao trabalho considerou e considera como o mais elevado galardão do Estado de Israel a sua pureza democrática; o valor que aqueles primeiro grupo de pioneiros colonizadores e restos dos campos de concentração devotam à democracia. Este exemplo sempre repercutiu junto a todos os legislativos e, em especial, à sensibilidade da Câmara Municipal de Porto Alegre.

Esta seria a mais grata notícia que, como comunidade judaica, receberíamos. A efetividade, que todos recebemos, a cada ano, nesta data, é fruto da intenção de revigorar a confiança na Democracia Israelense como exemplo para os demais países ou reinos do Oriente Médio, e como uma permanente lição a todos os Governos.

Senhores, esta democracia que todos reverenciamos é a que deverá assegurar a continuidade do Estado de Israel, porque os israelenses, inclusive com a participação de todo os judeus da diáspora, com o apoio de democratas sinceros, entenderão que todas as discussões passarão em todos os níveis, que todos os problemas serão debatidos até a exaustão, com o auto-condenação de posições erradas. Mas com a firmeza do que entendem seja a melhor conduta nacional.

Saberão dialogar com os que aceitam a existência do Estado e terão certeza que seus amigos, judeus ou não judeus, não os obrigarão a ceder e se acomodar para aqueles que declaram desejar destruí-lo.

Nós, judeus, que acompanhamos o Estado de Israel, festejamos a Independência de Israel e, acima de tudo, a cidadania brasileira que esta Independência nos confere. Nós fomos párias e não desejamos tornar a esta condição.

Esta certeza nos dá forças para dialogar com quem também, se sente povo e não quer ser pária e o Estado de Israel sabe que o diálogo é o caminho. Depende do bom senso e da coerência de todos nós para que isto seja possível.

Esta data, forte e emotiva, é uma renovação dos laços que unem o povo de Porto Alegre e a comunidade judaica desta Cidade. A iniciativa da Câmara fortalece esta ligação e este deve ser o elo da corrente que todos estabeleceremos, com dignidade e respeito, para que haja paz, entre todos os povos do mundo. Nós, brasileiros, devemos estar voltados, acima de tudo à reconstrução nacional, contribuindo para que haja harmonia entre todos os segmentos que compõem nossa sociedade, não permitiu o acionamento de ódios e acima de tudo, respeitando o direito de todos e evocar suas raízes. Sim, raízes! É tão importante que os senhores compreendem os nossos sentimentos para Israel como também, nós devemos ter a compreensão para todos os que estão voltados às suas raízes.

Esta compreensão mútua deverá selar, um dia, a almejada dignificação de todos os homens e de todos os povos. Agradecemos à Presidência desta Casa, ao ilustre Ver. Rafael Santos, ao corajoso companheiro Jorge Goularte, um dos mais ardorosos defensores das causa judaicas, ao qual reconhecemos a valentia do combate, ao ilustre Ver. Aranha Filho que citou os laços de Israel como o Brasil, através de Osvaldo Aranha, num pôster, onde consta “Um homem, uma data, uma amizade”. Que tenho a satisfação de dizer que foi elaborado pela Federação Israelita do Rio Grande do Sul, para demonstrar o nosso inconformismo com a incoerência do voto anti-sionista do Brasil. Ao Ver. Antonio Hohlfeldt, companheiro de reuniões e em debates, em quem conhecemos pela sua esclarecedora e culta formação, na abertura de ligações profundas com setores políticos, com os quais estamos prontos ao diálogo, mas que precisa entender que um diálogo sempre se inicia afastando os irracionais. Ao Ver. Isaac Ainhorn, os nossos agradecimentos pela moção que propiciou esta Sessão Solene, com voto unânime dos Srs. Vereadores, e que propiciou esta homenagem da presidência à Federação Israelita.

Esperamos, nobres Vereadores que usaram a palavra, e que representam as diversas bancadas que esta Casa possui, que continuem a acolher Israel e sua independência. E confiamos que os Senhores transmitirão aos ausentes, que esta Casa não serão permitidas causas que transmitam palavras de ódio contrárias àquelas que os Senhores expressaram nesta reunião. Esta é a fé que temos, que nesta Casa, todas as opiniões, todos tenham direito a manifestações, inclusive, com idéias contrárias à nossa. Mas não podemos aceitar que os Senhores permitam que nesta Casa os Senhores permitam palavras que visem a destruição das ideais, com que nós lutamos. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Ao encaminhar a Sessão para seu término, quero mais uma vez expressar aos Senhores o sentimento que domina a Câmara Municipal de Poro Alegre, eis que em mais de uma legislatura, a Câmara Municipal de Porto Alegre reitera seus laços de amizade com a comunidade israelita e ela se mantém, rigorosamente, aberta, fraternal e reitera, ano após ano, aquilo que já vinha sendo realizado ao longo do tempo, mesmo quando o Brasil, equivocadamente, adotava uma posição no cenário internacional.

Outrossim, é mister deixar registrado nesta Casa e neste momento a nossa profunda compreensão de recolhermos o sentimento que se instalou em Porto Alegre, onde israelitas ou não, o vivem fraternalmente.

Esta Casa tem um objetivo fundamental, quer estreitar relações, relações democráticas, relações respeitosas e, sobretudo onde possamos ser sempre elos de ligação e de reafirmação de fatos positivos como o é, efetivamente, a contribuição de todos os israelitas judeus viventes nesta Cidade.

Alguns oradores fizeram algumas colocações, mas um fato torna-se absolutamente inequívoco neste momento, o Legislativo Municipal que congrega todos os partidos políticos nesta Casa, tem, através dos anos, reiterando o apreço, o carinho e o reconhecimento, um dos oradores ou vários dos oradores citaram, que é a imensa contribuição que trouxe a colônia israelita a Porto Alegre e ao Rio Grande do Sul.

De outra forma, lembrando uma passagem de um colega sobre os anos vindouros, queremos dizer que, ainda este ano, iremos deixar estas Sessões escritas em bronze, para que não sejam esquecidas. Vivemos numa sociedade eletrônica, onde as memórias merecem muito cuidado de nossa parte, eis que são praticamente devastadoras, face à eletrônica. Nos Anais da Casa ficam as Sessões registradas, mas é necessário que coloquemos isto bem claro, reiterando uma vez mais o nosso respeito. Quanto a uma interpelação fraternal lançada pelo nosso querido Dr. Abraão Faermann Sobrinho, quero dizer a S. Exa. que esta Casa ouve, respeitosamente, mas a ela é dado o direito de resposta. E, hoje, é um dia de respostas, ou seja: nós não alimentaremos ódios. (Palmas.) Poderemos compreendê-los, mas jamais admiti-los e o nosso desejo é exatamente, congregar e tornar a nossa Cidade fraterna, amiga, onde não haja guetos, mas haja irmãos. Sabemos nós das injustiças sociais que cercam nossa Cidade. Um dia haveremos de eliminá-las. E, dentro destes caminhos, quer com a comunidade judaica, ou com qualquer outra que se encontre em situação difícil, quero crer um de nós, seja qual for, levantará a sua voz no momento oportuno.

Quero, por último – e me penitenciando por não tê-lo feito antes – registrar a presença do nosso ex-Vereador, do nosso ex-Prefeito de Porto Alegre, Dr. João Antônio Dib, dos professores do Colégio Israelita de Porto Alegre, aqui presentes, do Sr. Diretor da Carris, Dr. Nélson Castan, e dizer aos senhores aqui presentes que foi uma honra e um enobrecimento para a Casa a comparência de todos os senhores. Cumprimos os nosso dever, mas, acima de tudo, nos fortalecemos em nossos mais nobres e caros sentimentos. Muito obrigado. (Palmas.)

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 19h11min.)

 

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